sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

DIVISÃO AUXILIAR A ESPANHA 1793 A 1795 (Rossilhão e Catalunha)

A viagem dos nossos militares foi terrível na medida em que a esquadra teve que enfrentar ventos contrários fortíssimos, tempestades e doenças a bordo, o que fizeram dessa jornada um autêntico calvário, basta afirmar que partiram a 20 de Setembro e só a 9 de Novembro é que as nossas tropas desembarcaram em Rosas, na Catalunha num estado de comiseração extraordinário, basta pensar que levaram dois meses, menos onze dias, a percorrer essa curta distância (sensivelmente de Lisboa a um pouco mais acima de Barcelona).


Desembarque das tropas portuguesas em Rosas

Após o desembarque, o General Antonio Ricardos deu ordem de marcha às  tropas portuguesas que chegaram ao acampamento espanhol nos dias 25 e 26 de Novembro, sofrendo as intempéries de uma dura estação invernosa nos Pirenéus, chegando de tal modo fatigadas e exaustas que mais pareciam que tinham terminado uma guerra desastrosa, quanto mais irem-na começar; mas não foi por isso que não deixamos de nos portar com grande valor e admiração pelos nossos aliados e contrários.

General Antonio Ricardos
 A campanha de 1793 foi bastante favorável às nossas armas e a do ano seguinte extremamente desastrosa culminando com a entrega da praça de São Fernando de Figueras, onde se deram combates terríveis tendo, de um e do outro lado, havido imensas perdas, morrendo o General-em-Chefe do Exército Francês Jacques François Dugommier, e do outro o Conde da União, que de modo algum se resignava ao desgosto de se ver vencido em terras de Espanha.


General-em-Chefe do Exército Francês
Jacques François Dugommier
Cláudio de Chaby (1) culmina a narração das campanhas afirmando:
(...) bastante glória adquiriram as armas peninsulares na primeira campanha dos Pirenéus orientais em 1793, em que lutando o engenho e a força, lograva aquele, quase sempre, a superioridade: reveses sucessivos na seguinte campanha, mas, por entre as desgraças, brilhando resplendendo o valor dos filhos da península, inutilizado valor pela tibieza de um general, não bem aproveitado pela energia do outro, de quem aliás, a mesma qualidade de valoroso era um dos mais  apreciáveis dotes (...)

(1) In: "Excerptos Históricos", Tomo I, por Cláudio de Chaby, Lisboa 1863, pp.131 e 132.


Durante a campanha de 1795 deu-se um volte face e após cerca de dois anos de uma árdua campanha, durante o Inverno, num local inóspito e terrível, finalmente nos dias 1 e 2 de Março os dois exércitos encontraram-se pela última vez frente a frente, tendo-os a separar o Fluvial, os franceses decidiram-se pelo assalto, e são derrotados; a este ataque seguiram-se outros, que surtiram o mesmo efeito, colocando-se o inimigo em fuga, o que adicionando a esta derrota, a vitória alcançada pela esquadra espanhola na baía de Rosas, incrementou um tal entusiasmo nas tropas combinadas Luso-Espanholas, que o General Urrutia decide inverter os papéis e invade, por sua vez, o território da República Francesa; esta evasão foi executada com um êxito magnífico, tendo sido a primeira praça atacada Ping Cerda, seguindo-se a entrega de Belver, tendo-se nessas acções as tropas portado com tal bravura, que o governo de Madrid lhes rasgou o maior dos elogios. Os franceses à vista dos soldados da península debandavam por toda a parte, as nossas tropas, cheias de entusiasmo, devido a este novo renovar de forças, estavam extremamente motivadas e decididas a seguir a campanha pela França fora, quando a notícia do tratado de paz da Basileia apanhou as tropas vitoriosas de surpresa que de imediato lhes arrefeceram o ímpeto. Eram tão vantajosas as condições em que se encontravam as forças combinadas e tão difícil a defesa da fronteira oriental da França, pelo inimigo, que para os militares aliados a paz não foi nada bem recebida.


General Urrutia
  A paz entre a França e a Espanha, foi assinada a 22 de Julho de 1795, e o governo espanhol cometeu então a vilania de não pronunciar, sequer, o nome do seu aliado, ficando Portugal, assim, perante a França, como um dos seus inimigos isolados, quando em boa verdade,  só a tinha combatido em respeito, uma vez mais, à boa-fé dos tratados acordados por ambos e só cumpridos por nós, não tendo sido pequeno o espanto da nossa Divisão Auxiliar, porque o General Forbes, não recebera nenhum aviso de Lisboa, que o prevenisse de que se estava a tratar da paz, o que na realidade Lisboa desconhecia de todo.

Concluiu-se a paz de um modo pouco honroso para a Espanha, livrando a França de uma guerra que a estava a incomodar, assegurando-lhes as vantagens que sempre cabem aos vencedores; em Madrid a paz anunciou-se a 15 de Setembro de 1795 e no dia 17 já os prisioneiros portugueses estavam reunidos à Divisão Auxiliar, tal era a pressa que os franceses tinham em abandonar as posições que ocupavam... as praças espanholas, que estavam na posse do inimigo foram rapidamente abandonadas, uma vez que estando desejosos para regressarem aos seus corpos, verificando-se que para "vencedores" a ansiedade para se verem livres daquela guerra era muito grande!

Cláudio de Chaby (2) uma vez mais no esclarece que: (...) quando o exército espanhol se apresentava numeroso e aguerrido, favorecido pela vitória, sabiamente comandado, quase a compensar e fazer esquecer todos os revezes que o haviam oprimido; próximo a arrojar do País o exército contrário, podendo ditar, ou mesmo aceitar, no território da França, decentes e honrosas condições de paz, foi então o governo da Espanha, ou o fatal destino a que não podia esquivar-se esta grande nação, como destino prescrito pela providência, impôs ao exército e à nação uma paz inoportuna e quase vergonhosa, como se as circunstâncias dos respectivos exércitos fossem inversas, e o governo da república tivesse o direito que dá a força, para fazer aceitar a paz estipulada sob princípios a seu talante arbitrados (...).


(...) O exército espanhol na Catalunha ostentava-se ansiosamente dominado pelo desejo de salvar a honra da pátria, mas o governo, que nos seus cálculos diplomáticos, parece, não fazia entrar as considerações sobre as cisrcunstâncias da guerra, humilhou-se ante as exigências do governo de Paris, humilhou a nação, e humilhou o exército!(...) No meio destas pungentes amarguras e humilhantes abatimentos, surgiu ainda assim o engrandecimento de um homem: D. Manuel Godoy-Duque de Alcudia que passou a ser o Príncipe da Paz! (...)

(2): Obra cit.,99.160

Carlos IV
Antes do regresso a Portugal da Divisão Auxiliar, o rei Carlos IV, para não se mostrar ingrato e querendo agraciar as nossas tropas, condecorou o Marechal-de-Campo João Forbes Skellater com a Grã-Cruz da Ordem de Carlos III, nomeando-o Tenente-General dos seus Exércitos.

Finalmente os componentes da Divisão embarcaram no dia 28 de Outubro de 1795, rumo à Pátria, entrando a esquadra na foz do rio Tejo nos dias 10 e 11 de Dezembro, chegando os nossos militares a tempo de passar o Natal com a Família.
Textos coorden por: marr


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