sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

LUSITANOS


GUERREIROS LUSITANOS
Quadro do mestre Carlos Alberto Santos
Por especial autorização para este blogue
Colecção particular
 
 

Na época romana foi este nome LUSITÂNIA dado à província ocidental da Península Ibérica, designação que lhe adveio do agrupamento aí localizado - a tribo ou povo dos Lusitanos. Diversos escritores antigos falam-nos dos limites territoriais desta província hispânica, porem sempre de um modo mais ou menos vago. Assim, diz-nos, por exemplo Estrabão que a Lusitânia pré-romana ia desde o Tejo à costa Cantábrica, tendo a ocidente o Atlântico e a oriente as terras dos Carpetanos e Calaicos, tribos que, segundo se infere nas notícias de vários desses antigos escritores, como de modernos estudos etnológicos, seriam de origem céltica. O referido Estrabão, nas descrições que faz da configuração geográfica da Península, cita como rios pertencentes à Lusitânia o Mondego, o Vouga, o Douro, o Lima e o Minho, mas já não inclui o Tejo senão como limite sul. 
Quando no ano de 29 AC, em obediência a uma nova divisão administrativa dos territórios do Império, foi criada por Augusto a província Lusitânia, o limite desta era o seguinte: pelo lado norte recuou para o Douro, passando então a Galécia a ficar incluída na província tarraconense; para sul ultrapassou o Tejo, ficando-lhe anexado todo o território hoje ocupado por parte da Estremadura, Alentejo e Algarve; pelo oriente ampliou-se principalmente através das terras pertencentes aos Vetões. Portugal incluía hoje uma grande parte do território que constituía a antiga Lusitânia. Contudo os limites actuais do nossos País não coincidem precisamente com os da Lusitânia pré-romana, visto faltar-lhe a Galiza (antiga Callaecia) e incluir pelo sul a mesopotâmia compreendida entre os rios Tejo e o Guadiana; tão pouco se ajustam os limites da Lusitânia romana, que do lado norte terminava, como dissemos, no curso do Douro e pelo nascente incluíam Salmantica (Salamanca), chegavam até cerca de Toletum (Toledo), abrangiam Emerita (Mérida), que era a capital da província, e iam entroncar com o rio Anas (Guadiana) a sueste de Mirtilis (Mértola), na confluência do Chança  com aquele grande rio peninsular, um pouco a sul da actual localidade de Pomarão, que já na época romana era importante porto fluvial, por onde se fazia o escoamento do cobre extraído das minas hoje denominadas de São Domingos.

Mas nem por isso tais divergências de áreas territoriais significam que não possamos considerar os antigos povos da Lusitânia como a raiz etnológica, embora remota, dos portugueses de hoje, muito pelo contrário, a persistência de um anseio de autonomia, característico desta zona ocidental atlântica da Península, por vezes parecendo extinto, mas sempre vivo e latente, demonstra uma unidade, uma personalidade social, política e demográfica, que, no decorrer dos séculos, nas vicissitudes da história, nas invasões, nos contactos e nas mesclas com povos de raças e culturas estranhas não conseguiram extinguir.

Pastor Lusitano

Como qualidades gerais dos Lusitanos, os escritores antigos indicam a bravura, a ousadia louca e selvagem, o desprezo pela vida, preferindo a morte a abandonar as armas, o hábito da guerra, a negação para o comércio, a paixão pela liberdade e independência, o ódio à sujeição, a habilidade no armar ciladas, a sobriedade que Estrabão e Justino encarecem o hábito da caça nos homens confiando às mulheres os trabalhos da agricultura.
Estátua de Santo Ovídio de Fafe
A tenacidade  nas empresa, o ânimo sofredor e constante de que fala Polibio, a altivez e o orgulho indomáveis, a intratabilidade com os estranhos, com os quais lhes dava usar falsidade, a repugnância à união e disciplina razão principal das contínuas invasões sofridas, e ao mesmo tempo uma absoluta dedicação pelos amigos e superiores.
Viriato
(gravura do sec. XIX)
Diz-nos Estrabão: Todos estes montanheses são sóbrios, bebem só água, deitam-se no chão; usam cabelos compridos e flutuantes "à maneira de mulheres", mas, para combater cingem a fronte com uma ligadura. O seu principal alimento é a carne de cabra. Nos seus sacrifícios ao Deus Marte imolam bodes, cavalos e prisioneiros de guerra. celebram ao uso dos Gregos, fazem hecatombes de cada espécie de vítimas. Celebram jogos gímnicos, hoplíticos e hípicos, simulam escaramuças e batalhas de campo. nas três quartas partes do ano o único alimento na montanha são as glandes de carvalho, que secas, quebradas e pisadas servem para fazer pão: este pão guarda-se por muito tempo. Uma espécie de cerveja feita com cevada é bebida vulgar nos grandes banquetes de família, tão frequentes entre estes povos. Em vez de azeite servem-se de manteiga; comem assentados, em bancos de pedra dispostos em roda das paredes, onde os convidados tomam lugar segundo a idade e a posição social. A comida circula de mão em mão. Mesmo bebendo, os homens põem-se a dançar, ora formando coros ao som da flauta e da trombeta, ora saltando cada um por si a ver quem mais alto salta e mais graciosamente cai de joelhos.

As mulheres, por sua vez, dançam misturadas com os homens, cada um tendo o seu par de frente a quem, de vez em quando, dão as mãos. Todos os homens vestem de escuro e a dizer a verdade não deixam os sues "sagos", servindo-se deles como de cobertores, nos seus leitos de palha seca; estes mantos, são feitos de lã grosseira, como as dos Celtas, ou de pêlo de cabra. As mulheres só usam mantas vestidas de cor, feitos de fio cruzado.

Um castro lusitano. Quadro do mestre Carlos Alberto Santos.
Por sua autorização para este blogue. Colecção particular

Nas terras interiores só se conhece, pela falta de moedas, o comércio de trocas, ou então cortam-se lâminas de prata em bocadinhos que se dão em pagamento do que se compra. Os criminosos condenados à morte são precipitados nos penhascos; mas os parricidas são lapidados fora do território, além da fronteira mais afastada. As cerimónias do casamento são as mesmas que na Grécia. Os doentes, como antigamente se usava entre os Assírios, são expostos nas ruas, para provocar assim os conselhos dos que padeceram as mesmas moléstias. Anteriormente à expedição de Brutus, estes povos não se serviam senão de barcos de couro para atravessar os estuários e lagos do seu País; hoje começas também a ter embarcações cavadas num só tronco de árvore; mas o uso ainda está pouco divulgado. O sal que recolhem é vermelho-púrpura, e só se torna branco depois de pisado, tal é o género de vida destes montanheses,e, como já disse, compreende sob esta denominação os diversos povos que marginam o lado ocidental da Ibéria, até ao País dos Vascões e aos montes Pirinéus; a saber: os Calaicos, Astúrios e Cântabros, que têm todos na verdade um modo de viver muito uniforme.
À esquerda: dois romanos; à direita: dois lusitanos
Aguarela de Roque Gameiro
Assim podemos verificar as origens complexas destes povos. Bárbaros ainda em muitas práticas; orientais em alguns dos seus usos; gregos e romanos na educação, nas crenças, nas tradições, tendo o culto da família e o respeito pela hierarquia e pela idade; tendo noções positivas da justiça; vivendo uma vida rude, primitiva, frugal, num convívio alegre em que as danças se entremeiam de exercícios físicos, votando à luta um culto feiticista; tendo na sua religião os sacrifícios humanos.

Poucas são as nações que mantiveram uma identidade própria dentro do mesmo espaço geográfico durante tanto tempo como Portugal.

A história escrita por um povo é uma aglomoração de factos consumados criados por milhões de vontades individuias que, conscientes disso ou não, agiram em conformidade. Identificando-se como defensores de uma Pátria Mãe , sentiram as forças da sua origem como um impulso de uma razão de existência e uniram esforços e vontade individual para viver a seu modo, juntando-se na defesa do seu espaço geográfico, sempre e quando sentiram a sua unidade, como Nação ameaçada.
Guerreiro lusitano
Este sentimento de PÁTRIA, lógico para qualquer humano com respeito pelos seus antepassados e berço de origem, só dificilmente é compreendido pelos estrategas desenraizados que dividem países com riscos em mapas ou os submetem a organizações gigantes cujos interesses e alvos não condizem com a vontade dos habitantes.


Quando estes reagem e se levantam em sua autodefesa escrevem história, Não no sentido de conquistas gloriosas, mas como defensores da sua grande família ou NAÇÃO. Foi esta a principal acção de VIRIATO que não acatou a submissão da LUSITÂNIA à organização Imperial Romana e que combateu com todas as forças ao seu alcançe.

Portugal, criado no século XI (c.1095) é filho desta antiga e milenária LUSITÂNIA para a qual olhamos hoje com carinho porque é o repositório das nossas origens. Foi aqui que tudo começou. Foi do pó, do amor e do suor desta terra que a IDENTIDADE PORTUGUESA se levantou, se impôs, se expandiu e se fixou.

Todos os povos da bacia do Mediterrâneo que construíam embarcações de "alto mar" mais cedo ou mais tarde encontraram, os seus caminhos até aos portos da LUSITÂNIA bem como os povos Nórdicos que passaram por aqui para poderem A evolução de um País é uma fila de gerações que se ligam umas às outras como elos de uma longa corrente. Tudo o que somos e temos é o resultado do que os nossos antepassados nos deixaram, soubemos preservar e acrescentar. Quer se queira ou não, cada geração é o elo desta corrente com obrigações de se segurar ao elo anterior e de ser o apoio indispensável para a futura geração. Rompendo com a sua própria história não se constrói nada a não ser um túmulo para o passado e um enorme vazio sem bases de apoio para o futuro.

2 comentários:


  1. É com muito gosto que deixo um comentário a esta fantástica exposição. Chamo-me João Ribeiro e sou um monárquico convicto de 33 anos. Acima de tudo, sou um patriota que adora a História De Portugal. Muito obrigado pela sua exposição, concordo com tudo o que escreveu. Tudo de bom para si e para os seus. Boas Festas!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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