sábado, 12 de março de 2011

EXÉRCITO AUXILIAR A ESPANHA 1793 A 1795 (Rossilhão e Catalunha)

OS UNIFORMES
ALGUMAS ADVERTÊNCIAS...

Os fardamentos que as tropas envergaram nestas campanhas foram estabelecidos pelo Regulamento de Uniformes de 1764, atribuído ao Conde de Schaumbourg Lippe. Será que passado trinta anos os uniformes ainda eram os mesmos? Pelo menos em teoria assim seria, uma vez que não se publicou nenhum regulamento de alteração aos respectivos uniformes, e tal só iria acontecer em 1806. Contudo sabe-se que certamente houve alterações nos trajes militares, uma vez que a moda civil continuava a ter uma forte influência na evolução dos fardamentos militares e isto com grande incidência em todos os séculos, pelo menos até à publicação do Plano de Uniformes de 1806. Já Silva Lopes, no seu trabalho "Contribuição para o estudo dos Uniformes Militares Portugueses desde 1664 até 1806"(1), afirma: (...) alterações diversas sofreram os uniformes de 1764 (...) essas alterações teriam  resultado mais da moda que de determinações oficiais (...) os chapéus foram mudando de feitio, o corte das casacas foi sofrendo pouco a pouco modificações, os calções transformaram-se em calças (...) quero crer que desde 1801 em diante tais alterações se acentuaram, mas pouco posso dizer sobre o assunto (...)"

Efectivamente basta observar o período em estudo e verificar as diversas influências que passaram pelo traje civil, assim temos primeiramente a francesa (antigo regímen), seguindo-se a inglesa e novamente a francesa (revolução e império) e depois novamente a inglesa. Os nossos uniformes tinham, por esta época, influência prussiana, devido à acção do Conde Lippe, apesar de ele ter vindo da Grã-Bretanha, onde militava.


Se tivermos em consideração que as fardas eram confeccionadas pelos alfaiates das terras, onde os regimentos estavam estabelecidos, facilmente se poderá deduzir que certamente, os uniformes seriam "iguais" na mesma unidade e "semelhantes" de um para outro regimento, em virtude de que haveria diferenças, umas de pormenor e outras bastante mais acentuadas, tudo isto poderia variar de artífice para artífice e de terra para terra, onde os
regimentos estivessem instalados. Os alfaiates não eram militares, trabalhavam para os seus clientes civis (uns pobres outros abastados) e pontualmente teriam "a sorte" de confeccionar os fardamentos da unidade da sua terra, concelho ou distrito. Outra grande influência seria certamente o meio onde se encontrava a unidade: rural, urbano ou numa grande capital. Estou absolutamente convicto de que as fardas executadas por alfaiates de Lisboa ou do Porto e outros de Serpa ou de Almeida seriam muito diferentes embora, em teoria, seguissem os modelos dos livros iluminados; a influência civil e do meio que os rodeavam estava muito presente nos fardamentos e conforme a moda se ia transformando, de ano para ano, os uniformes seguiam, de um ou de outro modo, essas "tendências...", isto sem se levar em linha de conta os uniformes que os oficiais mais abastados mandavam fazer ao seu livre arbítrio. Para confirmar o que acima se expressou basta ler as "observações sobre as Reais Tropas Portuguesas às quais passou revista Sua Alteza, o Marechal Príncipe Christian von Waldeck nas Províncias do Alentejo, Algarve, Beira e Estremadura"(2), para se ficar totalmente esclarecido a este respeito...!

No que concerne à coberturas de cabeça passou-se sensivelmente o mesmo, em 1764 o tricórnio era o chapéu por excelência para civis, pobres ou ricos e militares, predominando os acairelados com puxadores, borlas, laço, presilha e botão, alguns forrados a plumas; em 1770 o bico frontal, que era saliente, começou a recolher e durante toda a década de 80 continuou a desaparecer, de tal modo, que em 1790 o tricórnio já quase se não confeccionava, o "bico" anterior não passava praticamente de uma pequena "ondulação".

Como exemplo, que geralmente apresento, poderei reportar-me a uma das mais célebres coberturas de cabeça dos fins do século XVIII e principio do seguinte, que foi o chapéu de Napoleão, que ele nunca abandonou, seria o que hoje chamamos a "sua imagem de marca", tratando-se de uma cobertura de cabeça típica da transição; efectivamente o Imperador dos Franceses adoptou o celebre "petit chapeau" dito "a la française", a partir da data em que passou a ser Primeiro Cônsul em 1800; na realidade tratava-se simplesmente do modelo de cobertura de cabeça utilizada no pequeno uniforme pelos oficiais franceses de todas as armas, naquela época.


No  dobrar do século XVIII, os bicórnios ou chapéus de dois bicos, já se tinham imposto, vendo-se de tamanhos diversos, sendo alguns enormes, com as pontas exageradamente grandes e descaídas até aos ombros (muito em uso por alguns oficiais ingleses), acairelados de penas, com altos penachos; as borlas, as presilhas e os botões enriquecidos de pedraria valiosa e bordados a fio de ouro ou prata! Eram e são assim os caprichos da moda...

Os nossos uniformes, ou melhor dizendo, os seus utilizadores, principalmente os oficiais seguiram bem a moda de perto! Isto já sem nos alongarmos nos chamados "uniformes de capricho" tão na moda, entre a nossa oficialidade da época e tão combatidos pelos seus chefes que queriam ver as tropas com a "severidade que o cargo militar exigia"  (entre eles Lippe e mais tarde Beresford).

Infelizmente não chegou até aos nossos dias grande profusão de fontes iconográficas coevas, para se poder executar uma análise pormenorizada das diferentes modificações; os poucos livros iluminados, que chegaram até nós, e que se encontram à guarda do Arquivo Histórico Militar reportam-nos para as datas de: 1777, 1783 e 1791.
                                                                 O Autor do Blogue
                                                                                                                               marr

Notas:
(1) - In: "Exposição Histórico-Militar, etc" C. M. do Porto - Gabinete de História da Cidade. vol.XXIX, Porto 1958.

(2) - In: "Boletim do Arquivo Histórico Militar", 62.º Volume, Lisboa 1997

1 comentário:

  1. Cá estou eu, sempre a acompanhar. Usar esta teoria nos modelismos já são outros quinhentos... Haja saúde! :)

    Francisco Bexiga

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