quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

VELHOS ESTANDARTES - XIII

BANDEIRAS, ESTANDARTES REAIS E MILITARES


D.  JOÃO  V

1706 - 1750

Gravura da época. Colecção particular

Bandeirola para trompete, bordado a ouro e prata sobre seda
Com D. João V o escudo foi modificado quanto à sua forma, passando a ser do tipo "cartela", mais fantasiado, muito ao gosto da época, tendo-lhe sido adicionados elementos figurativos que o sobrecarregavam, mas as carterísticas fundamentais nunca foram alteradas. 


Cobertura para timbalo, bordado a ouro e prata sobre seda
Efectivamente o gosto barroco e fantasioso de muitos levava-os acrescentar decorações incrivelmente "rebuscadas" às bandeiras e estandartes, por vezes somente nas representações pictóricas (telas, gravuras, etc), exemplos destes podem-se verificar na enorme variedade e fantasia das Armas de Portugal que aparecem a encimar toda a legislação impressa, desde D. João V a D. Maria I.
Colecção particular
Colecção particular
Colecção particular
Colecção particular
Colecção particular












Colecção particular

Embora se verifique que entre o que se vê impresso e a realidade bordada numa bandeira regimental é de uma enorme discrepância. Ainda hoje, muitos dos nossos artistas plásticos, ao tentarem fazer reconstituições, abusam um pouco dessa exuberância barroca.



Colecção particular


O estandarte que o cavaleiro ostenta é de cor carmesim com as Armas Reais bordadas no centro, tendo em cada canto a sigla real entrelaçada a ouro "I. V R.". Este foi dos primeiros estandartes reais a ter a cifra "d'el-rei", uma vez que nas chamadas "bandeiras regimentais" sensivelmente a partir da época de D. Pedro II, já se podiam observar alguns estandartes com letras representativas da unidade bordadas no canto superior esquerdo.






PEQUENO APONTAMENTO HISTÓRICO:


DEFESA DE CAMPO MAIOR

No ano de 1711, o marquês de Bay comandante do exército espanhol, assediou Campo Maior com uma força de setenta esquadrões composto por cerca de oito mil cavalos e trinta e três batalhões de infantaria com um efectivo estimado em dez mil militares, três mil sapadores, vinte e dois canhões, dezoito peças de campanha e onze morteiros; à testa deste força vinham sete mestres-de-campo-generais, oito generais de batalha e muita oficialidade, tal era a importância da força que cercava esta nossa praça.


Trombeta de cavalaria. Painel de azulejo
da época


Era seu governador o Brigadeiro Estêvão da Gama de Moura e Azevedo que contava dentro da praça forte com um sargento-mor, dois engenheiros e dois tenentes de cavalaria; a guarnição era composta por quatro regimentos de infantaria que estavam de tal forma diminuídos que apenas estavam aptos para pegar em armas novecentos e quarenta e sete soldados e como reforço contava com o socorro de trezentos e seis milicianos.



O abandeirado. Painel de azulejo
da época
Durante o sítio, os comandantes dos nossos regimentos, que estavam ausente de licença, mal tiveram conhecimento da situação tentaram romper o cerco com o intuito de entrarem na vila, o que conseguiram a coberto da noite, indo-se colocar de imediato à frente das suas respectivas unidades.

Os espanhóis bem tentaram entrar em Campo Maior, mas os nossos artilheiros eram muito experientes e causavam enormes prejuízos aos trabalhos de aproximação; por sua vez, a nossa guarnição fazia muitas sortidas que incomodavam constantemente o inimigo.
Granadeiros portugueses. Observe ao fundo um timbaleiro.
Painel de azulejos da época

A nossa defesa continuava enérgica, mas á medida que o tempo ia passando, os ataques do inimigo iam redobrando a sua força. Os constantes bombardeamentos espalhavam o terror em toda a vila, até que na noite de 25 de Outubro, os espanhóis prepararam-se para o assalto, utilizando com entrada uma brecha existente na fortaleza; os nossos reforçaram-na com setecentos e vinte homens, fazendo uma grande fogueira junto á abertura, cuja chama iluminava os campos tornando impossível qualquer surpresa nocturna.

No dia 27, do mesmo mês, foi decidido executar o ataque à praça pelas cinco horas da manhã, neste sentido reuniram-se trinta e duas companhias de granadeiros, dezasseis batalhões de infantaria e um regimento de cavalaria desmontado, que subiram ao assalto com grande e audaciosa energia.

Tropas portuguesas capturando um inimigo. Painel de azulejos
A lenha que ardia na frente da brecha, foi o primeiro obstáculo com que o inimigo se deparou, seguindo-se a valorosa resistência dos nossos militares inclusive na luta corpo a corpo; finalmente a grande quantidade de militares espanhóis acabou por lhes ser prejudicial, porque com o entusiasmo do assalto e ao tentarem todos entrar na brecha ao mesmo tempo, que era relativamente pequena, concentrou-os de tal modo que acabou por os atrapalhar tendo ficado expostos ao terrível fogo da nossa artilharia que com as descargas de metralha acabaram por arrasar completamente o inimigo, que depois de dois assaltos se viram obrigados a retirar, deixando centenas de mortos e estropiados, muitas armas e trinta seis escada de assalto. O general que comandou a escalada viu-se obrigado a solicitar um armistício para levantar os feridos e os mortos.
Regimento de Infantaria. Gravura da época. Colecção particular

Depois desta tentativa frustrada da tomada de Campo Maior, com o aproximar do Inverno e ao terem conhecimento de que a praça fora socorrida com reforços, foi resolvido levantar o cerco que durou um mês.
Parte da muralha de Campo Maior na actualidade. Colecção particular

Pode-se imaginar a alegria de todos os campomaiorenses e dos nossos militares ao verem o exército espanhol partir. Todo o País soltou um grito unânime de admiração pelo heróicos resistentes. D. João V gratificou todos os intervenientes nesta defesa e deu muitas benesses a Campo Maior e aos seus habitantes.



OUTROS ACONTECIMENTOS NESTE REINADO:

- 1707 Continuação da Guerra da Sucessão
- 1717 Batalha Naval de Matapan





















Coorden. do texto e ilustrações: marr